Definições De acordo com a Comissão Europeia a bioeconomia abrange a produção de recursos biológicos renováveis e a conversão destes recursos e fluxos de resíduos em produtos de valor acrescentado, como alimentos para consumo humano e animal, produtos de base biológica e bioenergia”. De salientar que a Estratégia Europeia 2020 coloca a bioeconomia como um elemento central para o crescimento verde e inteligente. No documento “The Bioeconomy to 2030 - DESIGNING A POLICY AGENDA” publicado em 2009 pela OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico a bioeconomia é considerada “como um mundo onde a biotecnologia contribui para uma parcela significativa da produção económica”. Prevê-se que a bioeconomia emergente atinja uma dimensão global e seja fundamentalmente orientada por princípios de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ambiental. Concretamente, a bioeconomia envolve três elementos:
  • Conhecimento em biotecnologia para desenvolvimento de novos processos para produção de uma gama de produtos, incluindo biofarmacêuticos, novas combinações de vacinas, novas variações de plantas e animais e enzimas industriais. O desenvolvimento deste conhecimento implica uma forte Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI);
  • Biomassa renovável e bioprocessos eficientes para uma produção sustentável. A biomassa renovável pode ser obtida através de diversas fontes primárias (ex. ervas, árvores, algas e culturas de alimentos) e resíduos domésticos, industriais e da agricultura (ex. cascas de vegetais, serradura, óleos vegetais usados, bagaço e palha de cereais). Os bioprocessos permitem, a partir destes materiais, a produção de uma vasta gama de produtos, tais como papel, biocombustíveis, plásticos e produtos químicos industriais;
  • Integração entre conhecimento e aplicações. Será de salientar que os três principais campos de aplicação da biotecnologia são:
    • Produção primária, inclui todas as fontes naturais vivas, tais como floresta, cultura de plantas, recursos animais, insetos, peixe e outros recursos marinhos;
    • Saúde, abrange aplicações farmacêuticas, nutracêuticas, de diagnóstico e instrumentos médicos;
    • Indústria, agrega produtos químicos, plásticos, enzimas, mineração, pasta e papel e aplicações ambientais, tais como biorremediação de solos.
Segundo Ronzon et al. existem 16 setores que podem ser enquadráveis como setores totalmente ou parcialmente pertencentes à bioeconomia (Tabela 1), merecendo realce que esta mesma classificação é a utilizada pelo JRC-Joint Research Centre.
Setor Bioeconomia Código NACE Subsetores CAE-Rev.3
Floresta A02 02 - Silvicultura e exploração florestal
Agricultura A01 01 - Agricultura, produção animal, caça e atividades dos serviços relacionados
Pesca e aquicultura A03 03 - Pesca e aquicultura
Indústria alimentar de bebidas e tabaco C10, C11, C12 10 - Indústrias alimentares
11- Indústria das bebidas
12 - Indústria do tabaco
Têxteis de base bio C13, C14, C15 13- Fabricação de têxteis
14- Indústria do vestuário
15- Indústria do couro e dos produtos do couro
Produtos de madeira e mobiliário C16, C31 16 - Indústrias da madeira e da cortiça e suas obras, expecto mobiliário; fabricação de obras de cestaria e de espartaria
31 - Fabricação de mobiliário e de colchões
Papel e produtos de papel C17 17 - Fabricação de pasta, de papel, cartão e seus artigos, exceto Fabricação de pasta (17110)
Produtos químicos de base bio, farmacêuticos e plásticos, excluindo biocombustíveis C20, C21, C22 20 Fabricação de produtos químicos e de fibras sintéticas ou artificiais, expecto produtos farmacêuticos
21- Fabricação de produtos farmacêuticos de base e de preparações farmacêuticas
22- Fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas
Biocombustíveis líquidos (bioetanol e biodiesel) C2014, C2059 2014 - Fabricação de outros produtos químicos orgânicos de base 205 - Fabricação de outros produtos químicos
Eletricidade de base bio C3511 3511- Produção de eletricidade
Não obstante das múltiplas origens e a ampla dispersão da bioeconomia em diversificados domínios científicos, é possível distinguir fundamentalmente três visões: biotecnológica, de biorrecursos e bioecológica. De forma sucinta estas diferentes visões são apresentadas na Figura 1. A bioeconomia verde tem por base a biotecnologia verde ou agroflorestal e engloba a produção primária. Ampla é a gama de aplicações da biotecnologia no setor agrícola, pecuário e da floresta. Um exemplo é a produção de plantas modificadas geneticamente, sendo as principais razões para esta modificação as seguintes:
  • Aumento da resistência aos herbicidas, pesticidas e doenças;
  • Incremento da resistência das culturas a fatores que podem diminuir a sua produtividade, tais como calor, frio, seca e salinidade;
  • Modificação das características dos produtos, como por exemplo, sabor, cor, conteúdo nutricional, características de processamento e incremento do valor medicinal e industrial dos produtos .
Por sua vez, a bioeconomia branca está ligada aos processos industriais e pode abranger processos biotecnológicos (ex.: enzimas e microrganismos para produzir produtos de base bio em setores tão diversos como produtos químicos, alimentos, detergentes, papel e celulose, têxteis e bioenergia). Uma vez que utiliza matérias-primas renováveis é considerada uma das abordagens mais promissoras e inovadoras para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Adicionalmente aos benefícios ambientais, a biotecnologia pode melhorar o desempenho e o valor dos produtos industriais. FONTE: IBC (2017) Estudo de Base sobre o Setor da Bioeconomia na Região de Santarém. Projeto “BIO-WARE - Programa de Sensibilização para a Bieconomia”, dinamizado pela NERSANT em copromoção com a ANIMAFORUM.